Para que serve o visagismo?

“A fim de conhecer e analisar a sua composição, isto é, quais traços a compõem e o que expressam. Precisamos diagnosticar qual é a mensagem que imagem está enviando…”

Luciano Boy

Luciano Boy

Cabeleireiro, Maquiador, Visagista e Educador

Forma e função

O trabalho de um cabeleireiro visagista, em geral, segue um princípio fundamental: a função define a forma. Como o objetivo de uma imagem é causar um impacto em seu meio, o profissional busca analisar a “imagem” pela ótica da linguagem visual. A fim de conhecer e analisar a sua composição, isto é, quais traços a compõem e o que expressam. Precisamos diagnosticar qual é a mensagem que esta imagem está enviando, como ela é percebida e também como pode influenciar o meio ambiente.

Composição

Para compreender esse processo, é necessário entender que quando olhamos uma imagem não percebemos imediatamente a sua composição geométrica, que exerce forte influência sobre a nossa percepção. Esta composição existe em todas as imagens, elaboradas por artistas ou reproduzidas da natureza. Uma imagem é composta por um ou vários conjuntos, equilibrados ou não, de linhas curvas, retas, cores e texturas.

Sistema límbico

Quando observamos uma imagem, não ocorre imediatamente um processo analógico, ou seja, as imagens não são processadas racionalmente pelo cérebro. O responsável pelo processamento das imagens é o sistema límbico, que age instantaneamente desencadeando diversas intensidades de emoções. Isso pode ser um problema para muitos, porque, antes de qualquer análise racional, as emoções são despertadas gerando impulsos e instintos. Por isso, quando olhamos um quadro, uma foto ou uma escultura, emoções são desencadeadas. Muitos filósofos debateram sobre este processo e mais recentemente a neurociência, dedica-se a estudar estes processos neurais.

Jung

As sensações despertadas segundo o psicólogo Carl Gustav Jung,  podem depender de arquivos armazenados em nosso cérebro. Jung, em seu livro “O homem e seus símbolos” descreve que existem informações ou símbolos arquétipos, armazenados em nosso inconsciente. Isso pode explicar as causas de nossas sensações e reações, incompreensíveis, em diversas ocasiões.

Experiência e sensibilidade

Presenciei situações que diante de certas imagens, pessoas aparentemente comuns, foram tomadas por fortes emoções e perderam parcialmente o controle. Certa vez, andando com uma amiga, encontramos uma mãe passeando com seu bebê. Ele devia ter por volta de oito meses. Era muito bochechudo, com coxas gordinhas e carequinha. Minha amiga imediatamente gritou, se aproximou da criança, apertou sua bochecha e mordeu o seu pé, dizendo que era uma bisnaguinha! Que interessante, o excesso de linhas curvas daquela criança, desencadeou uma explosão de memórias afetivas em minha amiga. E seus sentimentos, foram acompanhados de atitudes incontroláveis. Em geral, formas arredondadas são atraentes para a maioria das pessoas, as curvas remetem a objetos fofos e coisas “gostosas” como: algodão doce,  bumbuns, seios e até bisnaguinhas.

Expressões visuais

A criação ou adequação de uma imagem pessoal, atua tanto no indivíduo, quanto em seu meio, pois a imagem tem a capacidade de atrair ou de repelir, dependendo da sua composição. Meu objetivo com a história da minha amiga e do bebê, é o de destacar o grande potencial de uma imagem e também as suas possíveis consequências. Podendo despertar comportamentos diversos em indivíduos, afinal, nossas formas e as suas composições tanto do corpo, rosto, olhos, boca, cabelo, barba, roupa, etc, tem o poder de influenciar as emoções e consequentemente o nosso comportamento. 

Poder e autoridade

Um outro exemplo de formas expressivas são os “costumes completos” usados pelos altos executivos e também as fardas usadas pelos militares.  As linhas retas representam, direção, força, determinação. Em uma construção de imagem, quanto maior a concentração de retas, maior a expressão de força, poder, autoridade e até de complexidade. No início do século XX a estilista Coco Chanel soube como poucas, usar as formas com um propósito. Num período de grandes mudanças culturais, suas criações que usavam principalmente linhas retas, conquistaram a mulher moderna, que estava desesperada por liberdade, força e poder. Chanel livrou-se do espartilho, uma herança da era vitoriana.

Visagismo?

O nome visagismo tem origem na palavra “visage”, rosto em francês. O nome poderia significar “estudo do rosto”, mas ainda não é reconhecido como ciência, é conhecido como: “um conjunto de técnicas com objetivo harmonizar e exaltar a beleza. Muitas destas técnicas são conhecidas e muito utilizadas na caracterização de personagens em filmes, novelas e peças teatrais. A caracterização tem o objetivo de intensificar, através da imagem dos personagens, características como: Ingenuidade, maldade, infantilidade, sensualidade, força, poder, autoridade ou uma combinação de várias características de personalidade.

Os profissionais da beleza e da estética, adquirem os diversos conhecimentos do visagismo, apenas com a finalidade de oferecer algum benefício a suas clientes. Muitos preferem criar uma adaptação da imagem, copiando os influenciadores em destaque, e deixam de lado, esquecendo completamente, o grande potencial de personalização de uma imagem. Que certamente ajudaria o indivíduo a desenvolver e possuir um senso de identidade mais harmônico, valorizando suas características individuais com destaque para as qualidades. Isso certamente redundaria em um maior impacto psicológico nos indivíduos e consequentemente na sociedade.

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